sábado, 9 de agosto de 2014

E não é que o Papa é pop mesmo?

Por Fernando Castilho


Escrevi este texto logo após a escolha de Jorge Mario Bergoglio, o Francisco I, como o 266° papa da história da Igreja católica, em sucessão a Joseph Aloisius Ratzinger, o Bento XVI. Francisco estava para vir ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude.

Na época, sem muitas informações sobre Bergoglio, achei que ele deveria adotar a postura que Ratzinger não teve, e que ao meu ver, o chefe humano supremo da maior igreja do mundo deveria ter.

Logo, pelas atitudes e pronunciamentos de Francisco, percebi que havia sido injusto para com o Papa. Afinal, este se posicionou sobre certos assuntos considerados tabu pelos católicos, contrariando a ala, digamos, à direita da Igreja. Não fugiu de temas como relações homoafetivas, justiça social, proteção do meio ambiente, culto às riquezas na sociedade, Banco do Vaticano, desperdício de comida e fome no mundo, Teologia da Libertação, etc..

Por tudo isso, achei que cometera uma injustiça no meu texto. A guinada seria de 180°!

E gosto do Papa Francisco.


Em visita oficial de três dias ao Oriente Médio, ocorrida em maio deste ano, o papa Francisco pediu o fim do conflito entre Israel e Palestina, que chamou de "cada vez mais inaceitável". Veja aqui

Em 18 de julho, após Israel proceder a um ataque feroz à Faixa de Gaza, o Papa Francisco telefonou ao presidente de Israel, Shimon Peres, e ao presidente palestino, Mahmoud Abbas, para manifestar sua solidariedade por causa dos crescentes conflitos na Terra Santa. Francisco assegurou sua oração incessante e a de toda a Igreja Católica pela paz entre israelenses e palestinos. Pediu esforços de todas as partes envolvidas no conflito para que cheguem a um acordo. Veja aqui

A Universal claramente, e isto ficou explícito durante a inauguração do Templo de Salomão, já tomou posição favorável à Israel. Só faltou Edir Macedo fazer a declaração. Não o fará, com receio da repercussão.

Em minha opinião, como chefe de uma igreja que segue os princípios ditados por Cristo, Francisco deveria fazer mais que telefonar. Francisco deveria se posicionar contra a matança de 2000 civis, entre os quais cerca de 500 crianças, exigir, em cadeia mundial de TV, o fim dos ataques, e mais, que seja derrubado o muro que separa Israel de Gaza, e o fim das ocupações pelos judeus na faixa. Nada seria mais Cristão que isso.

Mas devem haver motivos para Francisco se manter mais ou menos equidistante. Afinal, há segredos nessas relações que certamente desconhecemos.

Por enquanto, acho que a guinada foi só de 150°.


O texto:

E não é que o Papa é pop mesmo?

Por Fernando Castilho

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O Papa Francisco, todos sabem, sempre teve como principal característica a simplicidade. A ala da Igreja Católica que se opõe a Retzinger, Bento XVI, venceu o embate interno e colocou no trono, Francisco. Mas Francisco, fiel ao seu costume não quis o trono. Francisco foi para o Brasil, encontrar-se com peregrinos e, mais uma vez demonstrou muito desapego e sobriedade.

Mas, o mais surpreendente é que, contrariando todas as expectativas, quando todos esperavam vê-lo se pronunciar contra aborto, relação homo afetiva, uso de preservativos, eis que ele disse. ''Não, não vim, falar sobre isso. Há questões da mais alta relevância a serem tratadas. A vida inteira, após ler os ensinamentos e a vida de Cristo na minha juventude, sonhei em seguir humildemente, com todas as minhas limitações de ser humano, seus passos.'' Por isso, ao chegar ao máximo poder da Igreja de Cristo, ocupando o posto que já foi de Pedro, observei que era chegada a hora. Que poder tenho eu? Não o do Nosso Senhor, que fazia milagres e morreu na cruz pelos pobres. Mas o poder que me foi dado pela Igreja, e que a mídia também insiste em me outorgar. E esse é um grande poder. Um poder acima do de muitos governantes mundiais, pois permeio quase todos eles. E um poder que bilhões de pessoas no mundo me conferem.

Decidi. É a hora de atacar e combater a pobreza e as injustiças sociais mundo afora. É a hora de conversar com os dirigentes do Brasil, dos países da América Latina, da África, do sudeste asiático, do oriente médio, enfim com quem governa os que mais necessitam. É a hora da Igreja assumir seu papel de seguidora de Cristo e voltar suas atenções para os famintos e desvalidos, firmando convênios de cooperação com os governos, fornecendo, através do Banco do Vaticano, ajuda onde for possível. Enviando médicos e enfermeiros à África para ajudar a combater a Aids, padres e freiras para as regiões mais carentes, afim de assistir aos mais necessitados. Intervindo nas regiões de conflito entre índios e fazendeiros, de tribos africanas, de judeus e palestinos, tentando evitar o genocídio que se pratica naquelas áreas. Estabelecendo convênios com pequenos agricultores, inclusive disponibilizando terras cultiváveis da Igreja, para produção de alimentos mais baratos. Uma revolução a fim de erradicar a fome e a mortandade infantil.

Resolvi conversar com todas as pessoas que detém o capital. Os mais ricos. Expliquei-lhes que Jesus disse que é mais fácil passar um camelo por um buraco de agulha do que um rico ir para o céu. Bastaria, no caso do Brasil, aos milionários e às grandes empresas, para começar, pagar os 500 bilhões de reais que devem à Receita Federal. Isso já demonstraria um gesto de boa vontade. Lembrei a eles que, embora tenha falado contra a corrupção, a corrupção também parte deles, pois são eles que corrompem.

Sei que agora todos no Brasil veem sentido em minha visita ao Brasil. Foi para isso que me desloquei em uma longa viagem. Sei que haverá gente contrária à minha atitude, mas a esses, peço que leiam mais uma vez os Evangelhos, mas com outros olhos, diferentes daqueles com os quais já leram. E tentem entender o que Cristo disse e fez.''

Pataxó

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