quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Marina: eu sou a lenda!

Por Fernando Castilho


Marina Silva, à medida que fala, vai construindo sub ou sobreliminarmente sua imagem.

Para muita gente, ela não será inteligível. Ou se poderá supor que a maioria da população brasileira consegue entender sua opinião sobre o caso da Ucrânia: ''A situação na Ucrânia exige uma releitura da história repaginada da Europa a nível de continente globalizado.''?

Lógico que a frase contém um sentido, um significado, mas que não se traduz em nada.

E a maioria das coisas que ela fala, muitas vezes com termos a que o brasileiro comum não está habituado, soam-lhe como música, mas são desprovidos de conteúdo

Mas, assim que se postulou ao protagonismo diante da morte de Eduardo Campos, Marina Silva pôs-se a falar mais e mais.

''Creio que existe uma providência divina em relação a mim, ao Miguel, à Renata e ao Molina''. 

A frase, além de infeliz, expõe sua ideia de que, é protegida de Deus. E mais, Eduardo não era...


Ao se colocar como a alternativa natural como cabeça de chapa do PSB, Marina propõe que a viúva de Eduardo Campos, Renata, seja sua vice-presidente.

Uma demonstração de despreocupação, de descaso com a seriedade com que o Brasil precisa ser governado e, mais ainda, um surpreendente pragmatismo e insensibilidade em curto intervalo post mortem.

Marina diz que ''o Brasil está cansado da polarização. Diz que o tempo de conflito entre PT e PSDB acabou. Afirma que é preciso unir os bons, os capazes, os honestos, que estão em toda parte, em todos os partidos''.

É o apocalípse. Marina descerá dos céus e levará em arrebatamento os bons e puros de coração consigo.

No debate da Band, a ex-senadora disse que vai tirar do banco de reservas aqueles que deveriam ser protagonistas da política. Citou José Serra e Eduardo Suplicy. 

Pergunta-se: esses dois alguma vez foram reservas? Serra, além de ter sido ministro, prefeito e governador, é candidato ao Senado. Eduardo Suplicy está há 23 anos no Senado! Que reservas de luxo, não?

No debate, ao ser questionada por Levy Fidelix sobre sua ligação com Neca Setúbal, herdeira do Itaú, que deve 18 bilhões de reais à Receita e Guilherme Leal da Natura, outro devedor, membros da chamada elite do país, Marina, visivelmente irritada, saiu-se com uma resposta pra lá de estapafúrdia. Disse que Neca é uma educadora, e que Leal tem compromisso histórico com a sustentabilidade e o meio ambiente. Afirmou ainda que o problema do Brasil é a falta de elites (sic), e que se há uma elite, Chico Mendes também era de elite (?) tanto quanto Guilherme Leal.

Chico Mendes, um membro da elite brasileira?
Aí não dá nem para comentar, não?

Quando indagada sobre se o Brasil precisava de gerente, Marina afirmou que o presidente na realidade precisa ter representatividade.

Mas o que ela quis dizer com isso? Dima não foi eleita com a maioria das votos? Não é isso que dá representatividade no regime democrático?

No debate, a ex-senadora disse que vai fazer correção de valores na previdência.

Não sabe ela que isso já existe? Vai inventar a lâmpada?

Ainda no debate, Marina prometeu fazer a reforma política.

Meu Deus, em que país ela, que já esteve dentro do poder, vive? Não sabe ela que o projeto está no Congresso desde 2011, aguardando parecer das comissões? E que o projeto vem desde o governo Lula, do qual ela fez parte?

Não sabe ela que, por iniciativa do governo federal, um grande número de entidades e movimentos populares realizarão o Plebiscito Popular pela Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político?

Luciana Genro perguntou à Marina se ela iria incrementar a política do PSDB, uma vez que tem entre seus colaboradores da área econômica, nomes neoliberais e com história dentro do ninho tucano. Marina diz não ter preconceito contra eles. Afirmou discordar da velha política da esquerda.

Ao fazer essa afirmação, Marina afasta-se definitivamente das teses da esquerda e lança uma âncora no centro-direita, passando a navegar nas águas territoriais dos tucanos.

Ao ser indagada sobre que tipo de estado defende, estatizador ou privatizador, Marina se sai com essa: ''Defendo o estado mobilizador''.

Depois dessa, juro que tentei fazer malabarismo mental para tentar compreender, mas em vão.

Na entrevista de 15 minutos no Jornal Nacional, Willian Bonner, que estava bem mais calminho do que quando entrevistou Dilma, indagou à ex-senadora sobre a origem nebulosa do avião que vitimou Campos. Marina afirmou que "não tinha nenhuma informação quanto a qualquer ilegalidade referente à postura do proprietário do avião" e que o empréstimo seria feito até o fim do prazo legal estabelecido pela Justiça Eleitoral, em novembro. E que caberá à Polícia Federal investigar e punir os culpados.

Pois bem, o Estadão, através de reportagem investigativa, já divulgou que não houve empréstimo, e que o ex-governador Eduardo Campos aprovou, pessoalmente, a aquisição do Cessna do grupo AF Andrade.  

Ao ser questionada sobre seu desempenho obtido no Acre, seu estado natal e onde construiu boa parte de sua carreira na política, nas eleições de 2010, terminando em terceiro lugar, a candidata do PSB citou um provérbio: "É muito difícil ser profeta em sua própria terra". 

Sacaram? Profeta!



Ainda, no JN, a frase que resume tudo: "Há uma lenda de que sou contra os transgênicos, mas isso não é verdade", disse.

Não é verdade que ela sempre se reafirmou como contrária aos trangênicos? Era uma lenda?

E olha que esse seu atributo era um dos poucos que eu admirava nela.
Agora, mais nada...

Marina é protegida de Deus, profeta e uma lenda.

João Cotta/Globo/Divulgação



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