quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Agora além do ''vai pra Cuba'' tem o ''vai pro SUS''

Por Fernando Castilho


Embora pelo vídeo, muito curto, não se possa ter uma ideia completa do que aconteceu com o ex-ministro Guido Mantega no Albert Einstein no dia 19, fica claro que algumas pessoas da classe média ou acima, que aguardavam num lobby do hotel, digo, hospital, realmente o hostilizaram.

Mantega estava uniformizado de ministro, com terno e gravata, o que tornou fácil reconhecê-lo.

O ex-ministro estava ali acompanhando sua esposa, Eliane Berger, que estava visitando um amigo ou uma amiga que está tratando de um câncer.

Xingaram-no e mandaram-no para o SUS.

Mantega, bem ao seu estilo, evitando confrontos, achou por bem deixar o local. É homem discreto. Fez bem.

Porém, alguém gravou o vídeo e o divulgou. Seria um indignado com a cena? Teria entregue a Mantega para que este o divulgasse?

Algumas questões tem que ser colocadas.

Há alguma denúncia, alguma acusação de corrupção, algo que desabone o ex-ministro? Não. Somente o fato de ter pertencido ao governo do PT. Pra essa gente já basta.

Essa gente, não muito numerosa, mas representativa de uma tendência à intolerância que está, a olhos vistos crescendo no Brasil, integra grupos de pessoas que muitas vezes não se conhecem mas que compartilham uma mesma visão de mundo. Preconceituosa.

Estão em todos os lugares.

Estão nos aeroportos, onde não toleram viajar ao lado de gente que vem ascendendo socialmente, brancos ou pretos.

Estão nos shoppings centers, onde não suportam ver grupos de jovens, geralmente pretos, usando tênis, bermudas e bonés de marca, ocupando seu espaço ''de direito''.

E agora estão nos hospitais de marca não tolerando que alguém que foi ministro de dois governos do PT, esse partido que os insultou tirando 30 milhões de pessoas da linha de pobreza, acompanhe sua esposa para uma consulta.

Lula e Dilma trataram seus tumores no Sírio Libanês.

Nas duas ocasiões não faltou quem os mandasse para o SUS, afinal Lula foi e Dilma é presidente do Brasil pelo PT.

José de Alencar, o vice de Lula também se tratou lá, mas nenhuma voz o mandou para o SUS, já que ele também era elite.

Alexandre Padilha, candidato derrotado do PT ao governo do Estado de São Paulo, durante a campanha prometeu que seu filho nasceria num hospital do SUS. Foi acusado de demagogo.

Na semana retrasada, Padilha cumpriu a promessa, mas a revista Veja, sempre ela, achou também uma maneira de hostilizá-lo ao publicar uma matéria em que mentia ao afirmar que o candidato levou ao hospital público uma equipe de médicos de sua preferência para assistir sua esposa, e que teria depois desistido e preferido um hospital particular. Parece que está tudo combinado, não?

Pois bem, pelo andar da carruagem, todo mundo que se diz de esquerda agora deve se tratar somente no SUS, colocar seus filhos somente em escola pública e se locomover somente com transporte público ou de bicicleta. O privado já está reservado. Tem dono.

Em São Paulo, já há algum tempo, floresce a fina flor do fascismo, visível através dos impeachloides e dos que querem a volta da ditadura.

Para essa gente, o Brasil deveria instaurar um regime de apartheid.

De um lado fica a reacionária classe média, que pensa que já está atingindo o andar de cima, e a elite que dominou o país por 500 anos. De outro, ficam os pobres e esses esquerdistas que querem a promoção social dos que a necessitam.


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