segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O homem do celular venceu, ou O riso sem graça das hienas

Por Fernando Castilho


Não adiantou Lula, ainda uma voz lúcida dentro do PT, pedir que o partido fizesse um acordo com o PMDB, já que a derrota parecia provável.

A insistência na chapa de Arlindo Chinaglia na base do ''vamos ver no que dá para ver como é que fica'' demonstrou uma cegueira e uma imaturidade muito grandes por parte dos deputados petistas.

O fato de Eduardo Cunha ter vencido Chinaglia por 267 a 136 votos, uma diferença significativa de 131 votos (!) causa-nos surpresa pela nossa condição de espectadores externos à Câmara, mas aos parlamentares governistas, internos à Casa, esses números já deveriam ser familiares há uma semana pelo menos.

Podem dizer que o PSDB traiu Júlio Delgado do PSB, com o qual estava fechado (e traiu mesmo pois faz parte de sua natureza), votando em Cunha, mas mesmo assim, Chinaglia já entrou derrotado na disputa. Os homens são ''profiças''.

Apesar dos avisos de Lula...

Dilma Rousseff foi reeleita em meio a uma campanha caracterizada pelo antipetismo incutido pela imprensa nas cabeças da população durante os quatro anos de seu governo.

Valeu, para a direita e sua linha auxiliar, a velha mídia, investir pesado num despreparado Aécio Neves para chegar ao segundo turno quase em condições de vencer a presidenta.

Não deu, mas os descontentes, durante um mês tentaram um terceiro turno pregando impeachment e volta da ditadura.

A mídia golpista tratou de divulgar dia sim, dia também, qualquer ilação, suposição ou disse que disse sobre a Petrobrás, mesmo sem fontes, não no intuito de combater a corrupção (a mídia não é tão nobre assim), mas de fermentar o antidilmismo até o ponto em que o impedimento da presidenta fosse clamor nacional. Foi assim que Carlos Lacerda agiu com relação a Getúlio Vargas. Esconde, porém, que FHC e o PSDB foram os que mais se beneficiaram com o esquema.

Não adiantou, após a vitória, a flexão de Dilma , nomeando um ministério que fosse deglutível pela direita, visando garantir um mínimo de governabilidade.

O que os abutres, e a julgar pelas fotos de comemoração pela vitória de Cunha, as hienas querem não é governabilidade do país. Não é o controle da inflação, o aumento do PIB, o equílíbrio das contas. Não é o bem do Brasil. Que isso tudo vá às favas. O que querem é pura e simplesmente o golpe, a extinção do PT e de seus programas sociais e, a cereja do bolo: a inviabilidade da candidatura de Lula em 2018.

Esse é o perfil do Congresso eleito pelo povo para esta legislatura. Conservador, de direita, preconceituoso, homofóbico e tudo o mais de ruim. O golpe está montado e as engrenagens estão azeitadas para esse fim. A eleição de Eduardo Cunha é só mais uma parte do plano sendo posta em prática.

A mídia fez o que pode para investir na candidatura de Cunha e em sua vitória. Aliás, hoje a Folha de São Paulo publica um texto com o título ''Para colegas, novo presidente da Câmara é pau pra toda obra'', em que exalta sua grande capacidade de trabalho e sua dedicação em tempo integral à Casa, sempre com seu celular colcado à orelha. Que bom, não? Igual a Maluf, que também tinha a fama de trabalhador...

Assessores da Câmara e lobistas com acesso a parlamentares do PMDB relatam que Eduardo Cunha registra em uma agenda a lista de empresas ligadas principalmente aos setores de energia, telefonia e construção civil, beneficiadas por sua atuação parlamentar.
A serviço da Globo e das teles, lutou para impedir a aprovação do Marco Civil da Internet, uma grande conquista para quem se utiliza da rede.

O homem é querido por intermediar financiamentos de campanha à vários deputados, seus pares. Toma lá, dá cá.

Embora a mídia não divulgue, é certo que as empreiteiras elencadas no esquema de propinas da Petrobrás têm atuado e muito nesses financiamentos. O deputado foi citado na Operação Lava Jato e será investigado por isso.

Eduardo Cunha também foi acusado de ter feito negócios com o megatraficante de drogas colombiano Juan Carlos Abadía, preso em 2007 pela Polícia Federal.

Não vamos listar todos os processos contra o deputado por falta de espaço e paciência.

Bem, e agora, José?
Para dizer o mínimo, o governo perdeu a governabilidade. Não passará na Câmara mais nenhum projeto de interesse da população, podem estar certos. Não passará a reforma política e o fim do financiamento privado de campanha. Também não passará a Regulação da Mídia. Ele não colocará em pauta por não ser de interesse de Globo, Folha de São Paulo, Estadão e Editora Abril. Mas tudo o que vier da oposição terá seu processo agilizado, CPI para tudo, podem crer.

Embora negue, é bem provável que Cunha trabalhe agora pelo impeachment de Dilma.

Quanto a isso, uma outra peça na engrenagem do golpe, o jurista Ives Gandra Martins já deu seu parecer favorável.

Não nos enganemos. Há um terceiro turno em andamento.

Foto: Sérgio Lima







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