quinta-feira, 14 de abril de 2016

O país que precisamos depois de domingo

Por Fernando Castilho






Embora a grande mídia esteja fazendo terrorismo psicológico ao tentar mostrar que o impeachment já ganhou na votação de domingo, há grandes chances de o golpe ser rechaçado. Após esse pesadelo que compromete a Democracia, é hora de pensarmos qual o Brasil que queremos já para a segunda-feira.


Depois de 502 anos de domínio da Casa Grande, experimentamos 12 anos de um governo que, embora não tivesse sido socialista, mas sim de esquerda (sim, de esquerda, embora alguns não concordem) moderada, democrática, com concessões aqui e ali ao capital, conseguiu inegáveis feitos.

Com certeza foram os anos mais exitosos do Brasil. Neles foram criados inúmeros programas sociais que beneficiaram o povo mais pobre e serviram para tirar 36 milhões de pessoas da linha de pobreza e aumentar significativamente a classe C do país.

O segundo governo Dilma começou emparedado por uma oposição e uma mídia que não aceitaram a derrota e obrigaram a presidenta a ceder ao neoliberalismo numa maneira equivocada e mal sucedida de acalmar os ânimos da classe média e conseguir um mínimo de tranquilidade para governar.

A Casa Grande quis retomar o país de qualquer jeito.

Para isso utilizaram-se do pretexto de combater a corrupção que teria tido, segundo eles, origem com a ascensão do PT ao poder.

A classe média (B) acreditou e comprou a luta saindo às ruas e batendo panelas. Se a mídia quisesse vender-lhe o Viaduto do Chá em São Paulo, o Maracanã no Rio ou a pirâmide de Queops no Egito, ela compraria.

O consórcio que se articulou para a derrubada de Dilma agiu como uma máquina muito bem azeitada.

Cunha, o corrupto maior da Nação se encarregaria de abrir o processo de impeachment na Câmara.

O juiz Sérgio Moro ficaria com a incumbência de tentar prender Lula para que este não concorresse em 2018.

A oposição sangraria Dilma até a morte.

A mídia não deixaria de noticiar e até inventar ''fatos'' diariamente contra Dilma e Lula. Choveriam escândalos noticiados por até meia hora todas as noites no Jornal Nacional.

O STF não prenderia Cunha, deixando-o solto para que agisse à vontade e instaurasse o processo de impeachment mesmo não tendo Dilma cometido crime algum.

A FIESP, fiel ao seu golpismo, mesmo as indústrias que a compõem tendo sido beneficiadas largamente pelas desonerações, isenções de IPI sobre produtos elétricos e automóveis, preferiu gastar milhões para derrubar o governo ao mesmo tempo em que promoveria seu presidente, Skaf, candidatíssimo à prefeitura de São Paulo este ano.

E a cereja do bolo: o vice decorativo assumiria enfim um protagonismo imoral ao trair a presidenta.

Enfim, eles conseguiram a aprovação do relatório do impeachment pela comissão da Câmara.

Tudo pode terminar no domingo (17) com a derrota do golpe ou evoluir para a votação no Senado.

A mídia já dá o golpe por concluído, tentando iludir os incautos e desmotivar aqueles que já percebem o risco da afronta à democracia ao comparecimento aos atos anti-golpe do domingo. Não se trata mais de defender o PT ou Dilma, mas sim a Democracia.

Mas sabemos que a batalha não está perdida e muito dependerá de nós mesmos.

Por que queremos que o golpe seja derrotado?

Em primeiríssimo lugar, pela defesa da Democracia e pelo restabelecimento do Estado de Direito, tão caros à Nação, de onde derivam a ética de um país, a confiança nas instituições e a segurança jurídica de todos os cidadãos.

Depois disso, são elencados outros vários motivos.

Se o governo Dilma esteve desorientado até agora, acabando por cometer inúmeros erros, isso se deve muito (não só, pois sabemos que há uma profunda crise econômica mundial) ao boicote que a oposição lhe impôs e à perseguição implacável da mídia. Não é concebível que em quatro anos de governo Dilma demonstre ser uma boa gerente e num segundo mandato caminhe como uma completa neófita. Não é este o caso, certamente. Havemos de lembrar que até junho de 2013 ela tinha uma popularidade de cerca de 60% que despencou de um dia para outro para 30%.

Portanto, é preciso que depois de domingo, Dilma comece, com a ajuda de Lula, a recompor sua base para que possa garantir um mínimo de governabilidade.

Uma vez derrotada a proposta de golpe, cabe à oposição ter um mínimo de dignidade e ética, reconhecendo enfim sua derrota e, se não contribuir para que a crise arrefeça, pelo menos faça uma oposição com propositiva. Duvido.

É preciso que a mídia passe a se ocupar de uma contribuição à recuperação do país, deixando as previsões econômicas catastróficas e mostrando que um futuro melhor pode acontecer. Além disso, pode começar enfim a divulgar as grandes obras que acontecem por todo o país. Duvido.

O STF tem que mandar prender Cunha com urgência. Não se pode mais tolerar um bandido mandando no país. Gostaria que sua prisão acontecesse até a próxima sexta-feira, mas isso é sonho. É sonho.

Deve ainda autorizar Lula a ocupar por justiça a Chefia da Casa Civil, já que nada obsta a isso. Isso pode ser que ocorra.

Para concluir, Janot tem que pedir ao STF abertura de investigação contra Aécio Neves pelas inúmeras vezes em que ele foi citado nas delações premiadas. Hum, será?

Moro deverá mandar soltar aqueles que não oferecem risco à população para que respondam às investigações e aos processos em liberdade. Duvido.

Os países mais ricos e desenvolvidos do mundo tiveram que equacionar e resolver seus problemas de desigualdade social para que pudessem chegar a seu atual estágio. Hoje todo mundo ao fazer turismo se admira de não ver mendigos nas ruas nesses países.

O Brasil, de dimensões continentais, mesmo depois dos governos Lula e Dilma, ainda mantém graves índices de desigualdade.

A maior parte da violência sentida pela classe média vem deste fato.

Essa classe média que é contrária aos programas sociais, não abomina um governo estadual que bate em professores e estudantes, que fecha escolas e rouba merendas das crianças, mas exige a derrubada de uma presidenta honesta por um bandido.

Essa classe média precisa parar de pensar que é classe A. Não fará.

E a classe C que ascendeu justamente nos governos passados precisa lembrar-se do que foram os anos FHC e dar um crédito de confiança à presidenta. Duvido pois agora ela quer mais e já se julga B.

Dessa série de fatores depende a recuperação do país.

Precisaremos de muita união para recuperar o país depois de domingo.

É hora de pensarmos qual Brasil queremos que emerja na segunda-feira.

Um Brasil justo, em que as instituições voltem a funcionar.

Um Brasil ético em que toda e qualquer corrupção seja investigada, julgada e punida a forma da lei.

Um Brasil democrático que faça valer sempre o resultado das urnas, a menos que crimes comprovados sejam cometidos.

Um Brasil plural, onde se possa caminhar pelas ruas com camisas vermelhas ou verde-amarelas.

Um Brasil onde se possa jantar num restaurante sem que se seja molestado por pessoas com outras convicções políticas.

Um Brasil onde o ódio não seja destilado nas redes sociais.

Um Brasil de debates.

Um Brasil propositivo.

Um Brasil legalista.

Um Brasil preocupado com suas população mais carente.

Um Brasil não homofóbico e não racista.

Mas isso é só mais um sonho.

Mas eu não estou sozinho neste sonho. Muita gente pensa assim.

E pode se juntar a nós.

Alguém já disse isso.



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