sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O Socialismo nunca dará certo no Brasil, sabe por quê?

Por Fernando Castilho







Sérgio Buarque de Holanda em sua grande obra Raízes do Brasil, nos ensina que os colonizadores portugueses impuseram ao povo brasileiro, como herança, um enorme senso personalista.
É assim que, nós, brasileiros, somos fadados a um comportamento bastante diferente dos povos do resto do mundo.

Somos, principalmente, incapazes de pensar coletivamente, sempre descambando para o mais completo individualismo.

Pensar individualmente significa negar qualquer possibilidade de ajuda ao próximo, de trabalho em equipe, de cooperativismo, enfim, de tudo aquilo que seja para o bem de uma coletividade.

Antes da abolição, os escravos eram discriminados menos por sua cor e mais pela sua pequena importância enquanto simples trabalhadores braçais, incapazes de colocar em sua obra sua assinatura.

Após a libertação dos escravos, os pobres é que passaram a ser discriminados pela elite e continuam assim até hoje.

Vou chamar aqui de brasileiro aquele pobre que se julga capitalista e de direita, a classe média e a elite mais rica que manda no Brasil, incluindo a classe política, o Judiciário e a mídia. Que me desculpem os outros brasileiros.

Peço também que não se interprete o texto como uma simples manifestação de viralatice. Não é isso.

Assim é que:
o brasileiro odeia o bolsa família porque não suporta que uma migalha seja retirada de seus impostos para matar a fome de crianças que nada têm a ver com ele;

o brasileiro não suporta a ascensão das classes menos favorecidas que realizam trabalhos sem importância;

o brasileiro odeia ver pobre viajando de avião porque não tem mérito para isso;

o médico brasileiro se recusa totalmente a clinicar nos grotões mas também odeia que outros médicos mais altruístas o façam;

o brasileiro esperneia ao ver que dinheiro de seu imposto está sendo aplicado na construção da transposição do Rio São Francisco, revoltando-se com o fato de que milhões de pessoas que não fizeram nada para adquirir o direito à água, serão beneficiadas;

o brasileiro não gosta da Democracia porque esta pressupõe direitos iguais para todos, ou seja, de maneira coletiva e não individualmente, onde ele pudesse ser privilegiado;

o brasileiro não gosta da Democracia também, pelo fato de que ela pressupõe que o poder seja emanado do povo e seja exercido pelo povo e para o povo. Ele não é povo, ele é ele;

o brasileiro gosta de ser manipulado, afinal, a liberdade de pensamento pressupõe um certo grau de organização coletiva que ele odeia;

o brasileiro também gosta da ditadura pois esta vai contra a Democracia que ele odeia. Os ditadores e também seus heróis passageiros como Cunha, Moro, Bolsonaro, Frota, são homens que se afirmam com pensamento individualista, egoísta e autoritário. Suas decisões nunca serão tomadas dentro de um coletivo, respeitando as opiniões divergentes e acatando a maioria;

o brasileiro adora a meritocracia embora ele a persiga e nunca a alcance. A meritocracia é o símbolo máximo de que o trabalho individual, e não em equipe, eleva o homem ao seu patamar mais alto;

o brasileiro adora Miami pois a cidade é o símbolo de que as ações individuais e egoístas do capitalismo deram certo. Cada um brigou pelo seu e todos prosperaram. Só se recusa a ser informado de que na mesma cidade há uma enorme favela onde moram aqueles que foram destruídos pelo sistema;

o brasileiro adora pagar planos de saúde. Assim ele evita o SUS, que embora tenha algumas unidades que funcionam muito bem, é coisa para pobre. E muitas vezes quando necessita de algum procedimento cirúrgico, escolhe médicos e hospitais fora da rede conveniada e paga do próprio bolso. Afinal, por que se utilizar de um plano de saúde que atende um grande número de pessoas se ele pode ser atendido de maneira diferenciada?

O brasileiro não sai às ruas para reivindicar segurança pública. Ele prefere individualmente se mudar para um condomínio fechado, com segurança privada e blindar seus carros;

o brasileiro detesta reuniões onde vários pontos de vista são discutidos para se chegar a uma decisão. Prefere que alguém dê um soco na mesa e decida, mesmo que ele tenha argumentos contrários;

o brasileiro entra nas redes sociais para mandar nelas, afinal, elas lhe garantem esse espaço e esse direito. Ele revelará, ainda que anonimamente, que segue fielmente seus instintos mais selvagens sem se preocupar com qualquer reflexão sobre o que seja certo ou errado. No Facebook o brasileiro, enfim é rei;

o brasileiro viu seu time que só tinha Neymar perder de 7 a 1 para uma Alemanha que praticou o futebol coletivo. Mas sonha em dar o troco justamente utilizando-se do mesmo futebol baseado em jogadas individuais de um único jogador;

o brasileiro quer ser VIP, mesmo que em sua própria casa seu cachorro tenha mais importância que ele;

o brasileiro quer as leis a seu favor, afinal, ele é egoísta e individualista. Às favas com as leis que servem para todos. É por isso que o brasileiro idolatra o juiz Moro que pune somente as pessoas ligadas ao PT e poupa todos os outros que são a grande maioria no escândalo investigado pela Operação Lava Jato;

O brasileiro não suporta um governo de esquerda, mesmo que seja esquerda meia boca como foram os do PT, e mesmo que ele ganhe dinheiro com isso, como realmente ganhou. Governo de esquerda está ligado a Socialismo.

E Socialismo lhe causa arrepios, não porque seus bens tivessem que ser expropriados, mas sim porque os pobres iriam melhorar de vida com isso.

E, egoísta como é, ele não suporta isso. 

Pode o socialismo ser implantado em todo o mundo, um dia. O Brasil será o último a aderir.

Se aderir...


quarta-feira, 27 de julho de 2016

Poderíamos ser decentes, mas não somos

Por Fernando Castilho

Charge: Renato Aroeira

Após Dilma ter sido INOCENTADA pelo MPF, o Senado agora defende que ela deve ser afastada por uma abstração chamada ''conjunto da obra''.
Nessa caixinha cabe qualquer coisa que se queira colocar dentro dela, inclusive que ela é dentuça.

O motivo alegado pelo Congresso para o impeachment de Dilma foram as pedaladas fiscais.

Ninguém sabia o que era isso. Alguns pesquisaram e descobriram que não eram crimes. Outros se limitaram a repetir como papagaios o que a mídia e os deputados e senadores diziam e passaram a se manifestar como quem é dono da razão.

O tempo passou e os peritos que depuseram no Senado provaram que pedaladas não eram crimes.

O Ministério Público Federal se pronunciou e determinou que não foram cometidos crimes de responsabilidade. Dilma foi INOCENTADA, mas nem por isso o Supremo acabou com a palhaçada. .

Os que juravam de pés juntos que havia crimes se calaram. Mas nunca se envergonharam ou se arrependeram. Nunca admitiram que cometeram uma injustiça.

Agora o Senado encontrou outra forma para prosseguir com o impeachment.

Defende que Dilma deve ser afastada por uma abstração chamada ''conjunto da obra''.
Nessa caixinha cabe qualquer coisa que se queira colocar dentro dela, inclusive que ela é dentuça.

A condenação pelo ''conjunto da obra'' é totalmente inconstitucional pois a Carta Magna prevê que um presidente só pode sofrer impedimento caso haja comprovação de crimes de responsabilidade cometidos diretamente por ele. Não há.

Mas a casa encontrou um artifício para isso.

Agora os senadores alegam que o legislativo tem o direito de fazer um julgamento político.

Ora, se antes havia quem negasse, agora fica totalmente escancarado o golpe.
E esse golpe não é somente contra Dilma ou seu partido, mas sim contra a Democracia.
É muito chato mas é verdade. Se as pessoas que apoiam o golpe tivessem um mínimo de apreço pela Democracia tão duramente conquistada, já teriam parado o Brasil e restabelecido o governo.

Mas não. Democracia é um conceito vago e desprezível para elas.

Preferem ficar escondidinhas, morrendo de medo das medidas totalmente impopulares do vice golpista que as atingirão em cheio também.

Hanna Arendt disse que não há como condenar alguém por omissão, mas há que se lhe dar o desprezo.


Demos o desprezo, então.

sábado, 23 de julho de 2016

Por uma escola libertadora!

Por Fernando Castilho


O que me surpreende na aplicação de uma Educação realmente libertadora é o medo da liberdade.
Paulo Freire

O senador pastor evangélico Magno Malta é o autor do projeto Escola sem Partido.

O nome do projeto é equivocado de propósito. Ninguém realmente gostaria que professores filiados a um partido político fizessem de suas aulas palanques eleitorais. Nisso o pastor foi bem malandro.

O nome correto do projeto seria Escola sem Pensamento Crítico.

É isso que o senador pastor quer emplacar. Por que?

Desde cedo as crianças são levadas às igrejas pelos seus pais para ouvir salmos e outras belas passagens da Bíblia que doutrinam seu pensamento. Outras passagens mais crueis não são mostradas.

A criança cresce e, se prossegue nos estudos, começa a receber aulas de História, Sociologia, Filosofia, Física, Biologia...

Seu pensamento então vai aos poucos mudando ao receber conhecimento dessas áreas variadas.

E é lógico que o poder de crítica também vai se desenvolvendo.

De repente, o jovem deixa de comparecer aos cultos porque já não os vê com o mesmo sentido de antes.

Os questionamentos passam a ser vários, afinal, já há explicação para quase tudo na Ciência.

A figura do pastor ficou distante, uma vez que aquele homem não tem a formação adequada para manter esse jovem dentro do rebanho.

O pastor falava que gay não era filho de Deus mas na escola tem uns caras bem legais e a turma toda tolera. Por que eu não toleraria também, pensa o jovem.

Com o pensamento crítico desenvolvido, o jovem passa a questionar a validade de se pagar um dízimo todo mês para manter não só a igreja mas também as despesas e o padrão de vida do pastor, que ele percebe, ultrapassa em muito sua própria condição.

Pronto. O jovem nunca mais volta à igreja. Uma ovelha foi perdida. E o que é pior, muito pior, mais um dízimo deixou de ser arrecadado. É só isso que importa. Mais nada.

Escola sem Pensamento Crítico faz os jovens pensarem e isso os liberta dos pastores.

Certíssima a frase de Paulo Freire lá em cima. E é por isso que os defensores do Escola sem Partido o atacam.



sexta-feira, 22 de julho de 2016

Feliz Dia dos Amigos! Ma non troppo!

Por Fernando Castilho




E passou o Dia do Amigo.

Pensei em postar algo legal, mas por fim achei que seria hipocrisia de minha parte pois não sairia do meu coração.

Tenho 600 amigos no Facebook, mais do que gostaria de ter, afinal, quantidade não significa qualidade.

Mas uma boa parte deles, nestes tempos de modernidade líquida em que vivemos, correspondem muito bem às minhas expectativas. Alguns nem conheço pessoalmente ainda, mas quero conhecer.

Porém, a maioria de meus amigos do Facebook não me torna feliz. Pelo contrário.

Amigo é pra se guardar no lado esquerdo do peito, assim falava a canção. 

Numa situação como esta em que vivemos, um verdadeiro divisor de águas ideológico, cada um se define por um lado.

Até aí, natural, afinal temos que conviver com as diferenças. E eu tento ser plural.

O problema é quando nos deparamos com uma situação em que estamos sobre o fio de uma navalha.

A maioria de meus amigos, embora respeitosamente tenham se mantido discretos em seu posicionamento, não gosta da presidenta Dilma. Normal, afinal, eu também não gosto.

Porém, ao se votar o impeachment de Dilma, o motivo alegado foram as pedaladas fiscais consideradas crimes de responsabilidade.

Óbvio, todo criminoso tem que ser punido e Dilma não fugiria à regra.

Sair às ruas pedindo o impeachment de Dilma, para quem não conhecia os detalhes do que significam as pedaladas, também seria natural, afinal, a mídia bombardeava isso dia e noite e muitos incautos foram enganados.

Agora, porém, quando o Ministério Público Federal inocentou a presidenta, já não há mais o motivo de crime.

Embora ainda não goste de Dilma, por Justiça, ela deve ser reconduzida ao cargo. E terminar seu mandato, pois foi eleita para isso.

Achava que meus amigos do outro lado iriam rever suas posições e dizer: ah, mas então ela é inocente! Foi injustiça! Ela deve continuar, então.

Qual nada.

Acho que o pensamento é que pelo menos uma vez na vida vão ser a favor da injustiça porque querem Dilma fora.

Ou seja, deixa eu pecar uma vezinha só. Depois eu volto ao meu normal que é ser justo, honesto e de consciência limpa.

Não, a Democracia foi desrespeitada e meus amigos estão maculados.

Não se pronunciaram, não reviram suas posições, não se retrataram.

Que me desculpem se quiserem.

Se não quiserem, fiquem à vontade. Sei quem são e embora possa tratar bem a todos pois sou educado, saibam que a relação nunca será a mesma.

Não julguem que é por divergências ideológicas que se acirram nestes tempos. Não é. Como disse acima, convivo bem com isso.

E nem falei dos verdadeiros criminosos que ajudaram a colocar no poder e que podem lhes retirar os direitos trabalhistas.


sábado, 9 de julho de 2016

80 horas semanais, 6 dias por semana

Por Fernando Castilho



Um projeto de um deputado aloprado e ignorante quer proibir que as escolas ensinem Marx. Ao mesmo tempo o presidente da CNI propõe ao interino golpista que a legislação trabalhista mude e adote uma jornada de trabalho de 80 horas semanais. Coincidência?


Ok, querem proibir doutrinação ideológica nas escolas.

Mas como não falar de Marx (o Cristo a ser crucificado pela direita), Engels ou mesmo Durkheim, Max Weber, Thomas Morus, ou mesmo, Milton Friedman e Adam Smith?

Como não falar de Hitler? Tem que falar de Hitler!

Mas enquanto este debate ocorre, vemos que um senhor, que representa a Confederação Nacional das Indústrias, vai ao interino golpista apresentar uma proposta de mudar a legislação trabalhista impondo uma jornada de trabalho de 80 horas semanais (12 horas por dia, 6 dias por semana) como forma de recuperar a indústria brasileira.

Ele se aproveita que o governo não é Lula e não é Dilma, mas é um interino fraco, neo-liberal e de direita.

Recuperar a indústria? Balela, aumentar o lucro. Aumentar a mais-valia de que Marx falou.
Marx, para a nossa consciência, já que não pertencemos à classe dominante, a burguesia, afirmou que há uma luta de classes necessária.

Quer queiramos ou não, ela existe e sempre existirá.

É um cabo de guerra constante. E se você cochila, o outro lado avança. A burguesia sempre, eternamente, há de impor sua busca incessante pelo lucro à custa de recursos naturais, destruição ambiental, trabalho escravo, o que for.

Cabe a nós, proletários (e é difícil e doloroso nos afirmarmos como proletários pois sempre achamos que fazemos parte de uma classe média prestes a chegar ao topo) rechaçar qualquer proposta indecorosa e injusta que nos faça retroceder até a Revolução Industrial.

1 (hum) por cento da população concentra metade da riqueza mundial.

Portanto, não estou escrevendo para eles, mas sim para os 99%.

Embora muitos se prestem ao trabalho de defender o 1% dominante.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Forte cheiro de uma grande trama sendo urdida

Por Fernando Castilho
Charge por Pataxó: http://pataxocartoons.blogspot.jp/


Charge: Pataxó



Após ficar claríssimo que uma trama foi costurada para afastar Dilma Rousseff da presidência e colocar em seu lugar seu vice para que a sangria da Lava Jato fosse estancada, o que estará sendo tramado neste exato momento nas caladas das noites do poder?



Era 21 de março de 2013. Dilma, segundo a pesquisa Datafolha, descansava tranquila com 65% de aprovação.

Em 28 de junho, após as manifestações, começou o inferno astral da presidenta. Despencou para 25%, queda de inacreditáveis 40% em apenas dois meses!

Pensando muito rapidamente, o que fez com que as pessoas deixassem de considerar seu governo como bom e passassem a achá-lo péssimo, tão rapidamente? O que mudou?

Nada.

E a presidenta só se reelegeu à custa de muito esforço, mas também com uma ajudazinha de Eduardo Campos que viria a falecer em condições ainda não satisfatoriamente esclarecidas, fazendo com que Marina Silva, sua vice, viesse a embolar a disputa.

Uma vez reeleita, Dilma mostrou um novo figurino, neoliberal, talvez destinado a tentar mais apoio para governar.

O tiro foi errado pois a direita tinha sua preferência, justamente o derrotado Aécio Neves que passou a ter noites insones na obsessão de, de alguma forma acabar com o novo nascituro governo.

Nesse intento, não poupou esforços para primeiro pedir recontagem de votos, depois pedir auditoria no TSE e por fim, entrar com ação de cassação do mandato de Dilma.

Naquele momento a operação Lava Jato começava a tomar mais corpo com as prisões de empreiteiros poderosos e do tesoureiro do PT, João Vaccari.

A mídia passou a trabalhar vigorosamente para colocar no banco dos réus da operação o PT todo, como se todos os bandidos fosse do partido.

Naquele momento ainda não tínhamos um quadro real do que estava acontecendo.
As melhores análises iam até o ponto de chegar a uma conclusão de que a Lava Jato pretendia tão somente o impeachment de Dilma e a prisão de Lula, conseguindo ao mesmo tempo depor a presidenta e inviabilizar a vitória do PT em 2018.

Mas desde o começo deste ano fomos percebendo que era cada vez maior o número de políticos de outros partidos envolvidos em delações premiadas e denúncias.

Cunha era o campeão das falcatruas, um exagero de gatunice. Roubava em qualquer ambiente em que estivesse e mandava na Câmara.

Aécio já vinha sendo denunciado várias vezes na lista de Furnas.

A conclusão definitiva do que realmente estava a acontecer já se delineava. A operação toda tinha a motivação de, além de criminalizar o PT, defenestrar Dilma para que outra pessoa fosse colocada no poder, no caso o vice, com a missão de desmontar a operação Lava Jato, impedindo que ela chegasse aos verdadeiros tubarões envolvidos nas propinas da Petrobras, os políticos do PMDB, PSDB e DEM.

Cunha tratou de rapidamente realizar aquela vexatória votação na Câmara que encaminharia Dilma para seu julgamento pelo Senado.

O Senado trataria de dar continuidade ao golpe nomeando como relator do processo o tucano Antonio Anastasia.

Não adiantou o PT esbravejar e o ministro José Eduardo Cardozo, com didatismo impressionante, fazer a defesa de Dilma. A oposição tinha a ideia fixa.

Foi quando apareceram as gravações de áudio de Romero Jucá, Sarney e Renan Calheiros gravadas por Sérgio Machado.

A partir disso ficou claríssimo o que já suspeitávamos sem nenhuma prova. Tudo nunca passou de um conluio entre a oposição, a mídia e o judiciário, inclusive com a participação de ministros do STF para que Temer assumisse o governo e desmantelasse a Lava Jato e estancasse essa sangria, nas palavras de Jucá.

Nem vou falar aqui da qualidade ou falta de, do governo Temer. Sem comentários.

Agora, no mais novo capítulo da trama, o próprio Temer tem seu nome citado em delação premiada.

Então entram três fatores nesta análise:
1 – a grande pressão popular, que poderia, nos moldes da que acontece na França em protesto contra as reformas trabalhistas, ser muito mais incisiva e menos pacífica;

2 – o nível baixíssimo do governo interino que quer atacar as conquistas sociais dos trabalhadores para ''resolver'' a crise mas não mexe um centavo sequer no dinheiro dos ricos, além das pesquisas desfavoráveis de opinião;

3 – grande número de envolvidos na Lava Jato que fazem parte do primeiro escalão de governo, Temer incluído.

Portanto, meus amigos, o governo interino golpista Temer está com os dias contados. Sua queda se dará muito brevemente. Possivelmente por renúncia.

Quem poderá assumir?

Simplesmente não há ninguém. Sobraria Lewandowski, mas duvido que ele queira.

A única saída é a volta de Dilma.

Uma grande trama pode estar sendo urdida neste exato momento.

Dilma volta, satisfaz a esquerda e os movimentos populares e cumpre o resto de seu mandato.

Em contra-partida, Moro prende Lula e impede que ele dispute as eleições de 2018.

Há um forte cheiro disso no ar.


sábado, 11 de junho de 2016

Uma reflexão sobre o plebiscito proposto por Dilma

Por Fernando Castilho

Charge: Renato Aroeira


Muita gente da esquerda ficou eufórica com a ideia.
Mas será que ela é viável, ou foi só uma cartada de Dilma para desmoralizar de vez essa classe política abjeta de nossos dias?


Em entrevista a Luís Nassif na TV Brasil, Dilma Rousseff afirmou que pode, caso venha a ser reconduzida à presidência, propor um plebiscito para saber se o povo quer ou não novas eleições.

Muita gente de esquerda ficou eufórica com a ideia. Inicialmente fui frontalmente contrário uma vez que temos defendido com ardor a Democracia e a Constituição e isto pressupõe que ela exerça seu mandato até o fim.

Porém, ao refletir mais sobre o assunto, percebo que Dilma acaba de jogar uma cartada inteligente e que pode colocar toda a classe política numa sinuca de bico. Mas só isso.

Primeiramente, Fora Temer. Em seguida, vamos analisar a jogada e seus desdobramentos partindo do cenário em que a presidenta sairia vitoriosa da votação do impeachment no Senado, uma vez que de outra forma não seria possível a ela apresentar sua proposta.

Dilma sustenta que um plebiscito seria necessário para que se conserte o grave erro do desrespeito à Democracia, ou seja, um referendo popular legitimaria a eleição do novo presidente ao mesmo tempo em que um pacto para a governabilidade se estabeleça.

Há duas possibilidades. Ou Dilma propõe novas eleições para presidente, deputados federais, senadores e governadores ou somente para presidente.

No primeiro caso não vejo possibilidade de que seu projeto seja aprovado, uma vez que a classe política envolvida não vai querer ter seu mandato encurtado e, mais ainda, estará despreparada para a disputa de uma eleição tão próxima. Além disso, temos que lembrar que a Câmara dos Deputados,se pauta pelo que Cunha, preso ou não,  diz e manda. Inclusive o golpista interino, Temer.

Acho muito arriscado Dilma defender este plebiscito agora, justamente o momento em que ela precisa dos votos do senadores indecisos que devem ter urticária somente ao ouvir falar da proposta.

Mesmo que haja grande pressão popular, não acho que deputados e senadores apoiem a emenda.

Caso a proposta valha somente para escolha de um novo presidente, há que se saber se o mandato será tampão, já que há eleições em 2018.

De qualquer forma, se a proposta for aprovada, Lula poderá ser imediatamente ou mais para a frente preso pois, segundo a última pesquisa CNI, o ex-presidente está à frente dos demais com folga. A plutocracia não correrá o risco.

Dilma na verdade busca, além dos 54 milhões de votos que recebeu, obter de volta sua legitimidade.

A jogada de Dilma conta com o fator tempo.

Fiz um cálculo rápido e concluí que após todos os precedimentos para que o plebiscito e as eleições se realizem, restará apenas um ano de governo para o novo presidente eleito.

Fica a pergunta: qual o candidato que se contentaria em governar por um ano apenas?

Portanto, falta à Dilma combinar com os russos.



domingo, 5 de junho de 2016

O fim próximo da aventura golpista

Por Fernando Castilho

Imagem do julgamento de Nuremberg


Até que a ponte para o futuro sombrio seja implodida, muita coisa ainda poderá acontecer, mas há a grande possibilidade de que Dilma seja reconduzida ao poder. A aventura golpista, terá então consequências devastadoras na vida dos principais atores envolvidos nela.

Vinte longos dias de presidência interina de Michel Temer.

Não vou perder tempo falando da qualidade deste governo porque todos já sabemos que ela não existe.

O fato, que se percebe pelos protestos nas ruas, é que o povo brasileiro não aceita Temer, portanto, ele, sem querer, com sua política que pune e sacrifica os pobres, acaba por se tornar a mola motriz da resistência no país inteiro.

Das medidas impopulares contra a população trabalhadora, Temer evoluiu para a mesquinhez de tirar a alimentação e proibir as viagens por avião da FAB da presidenta.
Tiro no pé. O povo brasileiro ainda é muito solidário e não tolera injustiças como essa.

Enquanto isso, pelos lados do Senado, Anastasia, relator do processo de golpe, não aceita a inclusão dos áudios vazados que comprovam que o impeachment foi uma armação para derrubar Dilma e possibilitar que um novo governo desse fim à Lava Jato. Além disso, quer apressar a votação para que não haja tempo para os senadores indecisos se decidirem pelo voto contrário.

O advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo recorre ao ministro Lewandowski para que este determine a inclusão dos áudios no processo. Se este cumprir a lei, o golpe sofrerá um duro golpe.

De qualquer forma, senadores como Cristovam Buarque, Romário e Acir Gurgacz já estão balançando e poderão votar pela permanência de Dilma. A corrida é contra o relógio mas há realmente agora a grande possibilidade da recondução de Dilma ao poder.

O fator povo é que pesa imensamente neste momento. A pressão popular é algo sensível aos senadores, homens sempre dependentes de votos que sabem que a maioria da população neste momento (cerca de 67%) já é contra o golpe.

Mas se Dilma voltar, qual será o novo cenário?

Dilma terá sua legitimidade dobrada e sua idoneidade atestada. Isto é muito forte.

O banho de povo que a presidenta está tomando também há de lhe fazer bem. Esperamos um governo mais à esquerda e mais voltado exatamente para os pobres.

Temer, que passará a ostentar na testa para todo o sempre a cicatriz risonha e corrosiva onde se lê GOLPISTA deverá sofrer o castigo amargo de sua aventura. Deverá renunciar.

Aécio Neves, duplamente derrotado, sairá muito enfraquecido do episódio. Pode ser até que tenha de deixar a presidência do PSDB, além da possibilidade em aberto de seu processo no STF, onde não se descarta a prisão.

José Serra, empenhado em destruir todo o trabalho diplomático edificado em anos anteriores de elevar a importância do Brasil no cenário mundial, sofrerá a humilhação de ver tudo voltar à normalidade. Seu sonho de vir a ser presidente vai virar um pesadelo.

Eduardo Cunha, derrotado em seu projeto golpista e já sem função dentro do consórcio constituido somente para tirar Dilma do poder, deverá enfim ser preso.

O senador Anastasia também é outro que deverá ser investigado pelo STF.

A mídia, principalmente a Globo, Estadão, Folha e Abril, por perderem a oportunidade de se apresentarem como pluralistas e optarem por insuflar o golpe, terão cada vez menos credibilidade e enfrentarão cada vez mais a concorrência da internet.

O STF, uma vez conquistado o reajuste salarial pretendido, poderá, enfim agir em defesa da Constituição, prendendo muitos dos políticos com foro privilegiado.

Lula poderá ser a moeda de troca do STF. Destrói-se o golpe, reconduz-se a presidenta ao poder, recupera-se a Democracia, mas em contra-partida prende-se Lula para que ele não possa disputar as eleições em 2018. Mas falta combinar com o povo.

Há atores menores que também traçaram seu futuro na aventura golpista.

É o caso de Janaína Paschoal que, de carro novo comprado com os 45 mil do PSDB, enfrentará o desconforto de ser uma professora sem nenhuma credibilidade junto aos seus alunos.

Miguel Reale Jr. será até o fim de sua vida apontado como co-autor de um parecer fraquíssimo, incapaz de servir de base ao impeachment de uma presidenta.

Hélio Bicudo, já no final da vida, queimou sua respeitável biografia. Não será lembrado como o homem que enfrentou o esquadrão da morte, mas sim como o jurista que agiu por sentimento de vingança e foi incapaz de discernir entre o Direito e o rancor.

E depois disso tudo, passamos à contagem regressiva para 2018, cujo cenário é por demais nebuloso neste momento.


terça-feira, 24 de maio de 2016

Teria sido a hora da Folha pular fora do barco do golpe?

Por Fernando Castilho



O áudio completo está em mãos do procurador geral da República, Rodrigo Janot, mas tudo sugere que a Folha já tinha em mãos a conversa e a manteve em sigilo durante todo este tempo por dois motivos.


Depois de revelado pela Folha de São Paulo o que boa parte do Brasil já sabia, que Dilma foi afastada por golpe, cabem algumas reflexões.

Por que o áudio da conversa, gravado em março, algumas semanas antes da votação do impeachment de Dilma pela Câmara, e só foi divulgado em 23 de maio?

O áudio completo está em mãos do procurador geral da República, Rodrigo Janot, mas tudo sugere que a Folha já tinha em mãos a conversa e a manteve em sigilo durante todo este tempo por dois motivos:

1 – aguardar o afastamento da presidenta.

2 – manter a posse de um tesouro.

E tento fundamentar o por quê de ''tesouro''.

Toda a grande mídia, Globo, Estadão, Abril e a própria Folha está em situação financeira muito ruim.

É certo que há um pacto antigo com o PSDB para que este, uma vez no poder, socorra as empresas.

Montou-se um complexo consórcio composto pela oposição, a mídia e, agora se confirma, também o Judiciário, para que Dilma fosse afastada do poder.

Tudo fora providenciado, exceto um crime para justificar a deposição da presidenta.

Mas pagando-se 45 mil reais para a advogada Janaína Paschoal, aproveitando-se do fato do jurista Miguel Reale Jr. ser filiado ao PSDB e do rancor vingativo de Hélio Bicudo para com o PT, conseguiu-se um parecer que depositou nas costas de Dilma as pedaladas fiscais e os créditos suplementares que, de maneira alguma configuram crimes de responsabilidade. Mas valeu, os deputados votaram pelo sim (Deus, família, esposa) e o Senado a afastou por 180 dias.

Tudo ia muito bem, exceto por um imenso detalhe: havia no caminho o povo.

E quem mais insuflou o povo a sair às ruas para protestar foi o próprio presidente interino, Michel Temer, ao anunciar um ministério só de homens, como 7 investigados na Lava Jato, duras medidas econômicas e a supressão de vários programas sociais, além da extinção do Ministério da Cultura.

Muitas pessoas que antes apoiavam a saída de Dilma passaram então a não apoiar o governo interino pois perceberam que tiraram o ruim para colocar o péssimo no lugar. Temer chegava a 94% de rejeição.

A imprensa internacional se manifestou contra o golpe e nenhum presidente de nenhum país reconheceu o novo governo.

Em Cannes, os atores do filme Aquarius, numa cena comovente, mostraram plaquetas denunciando o golpe para o mundo todo ver.

Além disso, pode ter pesado na decisão da Folha o próprio teor da gravação. Sérgio Machado, se enviado para Moro, haveria fácil fácil de fazer delação premiada para salvar sua pele. E ele sugere que delataria mesmo. A casa cairia pra muita gente e o primeiro ''a ser comido'' seria Aécio Neves.

O governo Temer começou a ficar insustentável.

A Folha, que tinha como trunfo o áudio guardado, ao perceber o barco afundando, deve ter resolvido então fazer uso dele para detonar o governo Temer.

Por que?

Bem, uma vez isolando-se como único órgão de imprensa a adotar uma atitude que pode reconduzir Dilma de volta à presidência, a Folha pode teoricamente se cacifar como a única empresa de mídia apta a negociar com o governo uma ajuda do BNDES. Se Dilma aceitaria, não é muito provável mas continuar a apoiar o golpe parece que já não daria mais. Afinal, mais dia, menos dia, a casa haveria de cair mesmo.

Então tanto faz se cair daqui há pouco tempo ou agora.

Teria sido esta a hora de saltar do barco?


domingo, 22 de maio de 2016

Quase tudo pode ser de esquerda ou de direita

Por Walter Falceta



Nem de longe, a definição binária de esquerda e direita oferece caminho na busca de uma filiação ideológica.
Considerando que a interrogação se apresenta todos os dias, seguem as pistas.

Nosso problema de grosso calibre é a referência da cartilha. Segundo ela, a esquerda cerra fileiras com o trabalho; a direita, com o capital.
Nem de longe, no entanto, essa definição binária oferece caminho na busca de uma filiação ideológica.
Considerando que a interrogação se apresenta todos os dias, seguem as pistas.
O humano de esquerda busca a felicidade. Ponto! O humano de direita também, mas pelo sucesso. E quase sempre o sucesso se mede pelo patrimônio.
Não bastou?!
Sigamos, pois!
O humano de esquerda busca o avanço. O humano de direita também, mas não se importa de chegar sozinho (ou com poucos pares) ao destino.
Percebeu agora a diferença? Não? Vamos em frente...
Durante a caminhada, o humano de esquerda usa a mão como apoio. Ela frequentemente está voltada para trás ou para baixo, para trazer ao trajeto aquele que se atrasou ou caiu.
O humano de direita também, mas sua mão busca a corda que o levará antes ao outro lado do rio. É aquela que vai remar mais rapidamente. E agarrará, ainda que solitária, a última passagem no trem que atravessa a fronteira.
O humano de esquerda tende a adorar sua família, aquela que começou na África e que hoje habita todos os continentes. Ela se inaugura em anônimos remotos e se resume em seus filhos.
O humano de direita também adora sua família, mas é aquela de seu núcleo particular e privado. Em defesa desta pequena célula social, ele estabelece seu código particular de valores.
O humano de esquerda busca a satisfação, é evidente. Porém, muito mais satisfeito está quando seus semelhantes gozam do mesmo conforto físico, mental e espiritual.
O humano de direita igualmente busca a satisfação, mas contenta-se com a própria ou aquela de seu clã.
O humano de esquerda adora competir, mas consigo mesmo. Ele pretende fazer melhor do que fez ontem e contribuir com seu coletivo. Quer dar a ele de acordo com suas possibilidades.
O humano de direita também compete, todos os dias, nas horas todas em que permanece desperto. Mas assim o faz para superar seus semelhantes. Quer dar a si mesmo todas as oportunidades.
O humano de esquerda coopera, cultivando um sentimento de solidariedade que atravessa as classes sociais. O humano de direita também coopera, mas com suas corporações de ofício, na defesa de seus interesses classistas.
O humano de esquerda exercita dia e noite a projeção dialética. Ele se sente também na pele dos famintos, dos desterrados, das vítimas do preconceito, dos escravizados, dos injustiçados, de todos os excluídos.
O humano de direita também se projeta dialeticamente no outro. Ele se mira nos que seguem no pelotão da frente. É essa conduta que pretende emular. É este êxito que pretende reproduzir.
O humano de esquerda ama as pessoas, especialmente quando elas se chamam comunidade. O de direita também, especialmente quando elas se chamam mercado.
O humano de esquerda pensa em compartilhar seu excedente. O de direita também, mas costuma cobrar juros altos pelo que entrega.
O humano de esquerda, diante do colega sem merenda, é generoso e divide parte da sua própria.
O humano de direita também é generoso. Diante do famélico, aconselha-o gentilmente a trabalhar mais.
O humano de esquerda tende a compreender a causa da miséria. Associa-a à exploração, à restrição de acessos e à negação de direitos.
O humano de direita também compreende bem a causa da miséria. Para ele, é resultado da falta de esforço.
Nesse sentido, o humano de esquerda valoriza demais o talento. Para isso, luta para que todos desenvolvam suas potencialidades.
O humano de direita também venera o talento, e lamenta que os pobres tenham nascido sem essas qualidades especiais.
O humano de esquerda pode ou não acreditar em Deus. Quando crê, imagina que Ele instrua a mais perfeita comunhão. O humano de direita também. Mas imagina que Ele defina e premie os escolhidos.
No fundo, ninguém é 100% de esquerda ou 100% de direita, mas não é tão difícil assim definir qual caminho desliza melhor sob nossos pés.
E você, viaja de que lado?



Walter Falceta é jornalista, pintor e músico